Convite Formal para Todos os Golfinhos que Queiram Entrar na Internet

Não é novidade que nós, seres humanos, costumamos expulsar os outros animais de dentro de nossas imensas colônias. Na maioria dos casos toleramos apenas animais subordinados, que são totalmente dependentes da gente (animais domésticos em geral) ou aqueles que não conseguimos, efetivamente, expulsar (baratas, pombas, ratos).

E conforme as cidades crescem, os bichos vão ficando cada vez mais distantes das pessoas.

Os animais da cidade têm a cor da cidade. Ilustração por Iris Beraud

Para deixar esse estado de alienação do mundo natural ainda mais forte, muitas pessoas estão passando bastante tempo em um ambiente populado exclusivamente por humanos: a internet. Nenhuma outra espécie tem voz dentro da rede.

Todo o texto, site, byte que podemos encontrar na internet foi colocado aqui por um ser humano.

Por isso, pessoas que vivem em cidades grandes e passam bastante tempo na internet acabam enclausuradas em bolhas humanóides. Nem percebem que dividimos esse planeta com inúmeros ecossistemas riquíssimos, e milhares de outras espécies.

Felizmente existem pessoas determinadas a mudar isso. E, surpreendentemente, o músico Peter Gabriel é uma delas.

Depois de participar de uma jam session com um bonobo, o Peter percebeu que se comunicar com um animal é uma experiência muito rica que estamos deixando de lado na dinâmica urbana, e que precisamos, urgentemente, imaginar maneiras para facilitar uma comunicação mais horizontal entre humanos e outros bichos.

Então Peter reuniu um forte time de profissionais especializados, formado pelo pai da internet Vince Cerf, pelo pesquisador do MIT Neil Gershenfeld e pela psicóloga congitiva, Diana Reiss.

Juntos eles criaram The Interspecies Internet, uma fundação que financia e apoia projetos que visam desenvolver formas de comunicação com os animais, através da internet.

Até agora o grupo desenvolve formas de comunicação com três espécies: elefantes asiáticos, golfinhos e orangotangos.

Conversei com a psicóloga Diana Reiss, sobre a possibilidade de convidar animais para a internet.

Dr. Reiss é autora do livro The Dolphin in The Mirror e lidera alguns projetos de comunicação com cetáceos, Nós demonstramos anteriormente que como humanos e grandes primatas, os golfinhos e os elefantes asiáticos têm a capacidade de se reconhecerem no espelho (Mirror Self-Recogtition – MSR), e usam espelhos para ver a si mesmos.” ser auto-consciente facilita diversos aspectos da interação com outras espécies e foi essencial para a escolha dos golfinhos como próxima espécie a entrar na internet. Em colaboração com a Rockefeller University, a psicóloga desenvolve, atualmente, um projeto para decodificação da linguagem dos golfinhos nariz-de-garrafa.

surfando nas ondas por iris beraud
por Iris Beraud

Dr. Reiss é fascinada pelo fato de que uma das espécies mais inteligentes do planeta está separada de nós por mais de 95 milhões de anos de evolução, vive dentro da água, e não poderia ter uma aparência menos humana. “Olhe para um golfinho. Eles são verdadeiros extraterrestres, eles são aliens!”. Perceber que a inteligência não é exclusividade dos grandes primatas é importante para cutucar o ego inflado da nossa espécie.

O objetivo fundamental da internet interespécies seria possibilitar uma comunicação realmente horizontal, já que até agora o que chamamos de “comunicação interespécies” mais parece algum tipo de adestramento consentido.

Para que isso aconteça é preciso possibilitar que os animais interajam da maneira que preferirem, no ambiente digital, não apenas com humanos, mas também com outros da mesma espécie ou até com outras espécies. Sem guias ou instruções de uso.

“Eu amaria providenciar a outras espécies mais opções e controle através de telas touch screen e grandes monitores, fornecendo a elas portais de comunicação que permitiriam que elas observassem e interagissem com outros, se essa for a vontade delas.” – Diana Reiss

Poderíamos começar a desenvolver formas de decodificação instantânea de linguagens que culminariam em uma livre comunicação entre espécies. E assim, no lugar de um ambiente exclusivo para seres humanos, teríamos uma ferramenta de comunicação direta, simples e acessível, entre todos os seres interessados. Talvez, graças à internet, poderemos compreender outros animais como nunca antes.

por Iris Beraud

Na TED Talk de apresentação do projeto Neil Gershenfeld relembra que quando a internet nasceu você poderia chamá-­la de internet dos homens brancos de meia idade, desde então a internet se tornou um clube frequentado por cerca de 40% da população humana, e um ambiente extremamente democrático entre seus usuários.

Ainda temos muito o que explorar com essa linda plataforma.

Para Vince Cerf, esse projeto tem um efeito colateral surpreendente: teríamos que lidar com um tipo de comunicação totalmente sem precedentes e sem diretrizes, e por isso “poderíamos aprender, por fim, como vir a interagir com um alien de outro mundo.”

 

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