Como Ressuscitar um Dinossauro

O DNA é uma estrutura muito complexa e frágil, e jamais permaneceria intacto por 65 milhões de anos. Nem dentro de fósseis e muito menos dentro de um mosquito preso em um pedaço de seiva. Mas existe uma maneira de manter o DNA vivo durante todo esse tempo, e é a maneira que a natureza usa – a autorréplica. E é por isso que o paleontólogo Jack Horner afirma que ainda hoje podemos ressuscitar um dinossauro, usando seu próprio DNA, que vem se autorreplicando por milênios. Isso porque nem todas as espécies de dinossauros foram extintas, algumas continuaram evoluindo e hoje estão vivas na forma dos nossos queridos pássaros modernos.

Pássaros são dinossauros. E pensando nisso, Horner está encontrando formas de reativar traços no DNA de galinhas comuns, que estão lá desde a época em que elas eram dinossauros.

A evolução dos seres vivos acontece basicamente através de mutações em genes, por exemplo, todos os genes que comandam o crescimento e movimento de braços e dedos ainda existem nas galinhas, mas acontece que, em um estágio muito inicial do desenvolvimento do embrião, outros genes surgem e desligam o desenvolvimento deles.

É muito mais simples para a natureza fazer isso do que “colocar fora” um monte de genes. Não é assim que a evolução das espécies funciona.

Então Horner quer recuperar quatro principais características que fariam uma galinha comum se tornar oficialmente um frangossauro:  bracinhos com dedos, rabo comprido, focinho e dentes.

Uma galinha com mãozinhas, dentes e rabo seria extremamente parecida com um velociraptor, um dos dinossauros mais populares do mundo.

Não se iluda com os velociraptors gigantes e verdes mostrados no Jurassic Park, na verdade eles mediam cerca de 50cm e tinham o corpo coberto por penas.

Em sua defesa, Horner, que foi um dos consultores para a saga Jurassic Park (e também inspirou o personagem do Dr. Alan Grant) disse em uma entrevista para o Google que bem que tentou convencer Spielberg que os dinossauros do filme deveriam ser coloridos e ter penas, mas Spielberg alegou que ninguém sentiria medo deles, e vetou:

Quando começamos, [Steven Spielberg] me disse que não queria criar monstros, mas eu tinha que ficar afastando ele de monstros, porque no fundo era isso que ele queria.

 

velociraptor
Colorido e com penas. Uma representação mais precisa da aparência que um Velociraptor teria. Imagem retirada daqui.

Outros cientistas estão paralelamente testando a possibilidade de reativar características ancestrais em aves.

Em 2006 Matthew Harris e John Fallon descobriram que seria possível ativar o crescimento de dentes em galinhas. Ao se suprimir a atividade de apenas um gene, os embriões começaram a desenvolver dentes redondos, como os dentes de crocodilos, mas que nunca se desenvolveram completamente porque o bico impediu o crescimento total deles.

Ano passado um outro grupo de biólogos de Harvard liderado por Arkhat Abzhanov descobriu como transformar os bicos de galinhas em focinhos. Eles perceberam que ao se bloquear a atividade de uma determinada proteína, decodificada por dois genes na cabeça das galinhas, elas desenvolvem estruturas mais parecidas com focinhos do que com bicos.

Com metade do caminho andado, o time de Horner agora foca em reativar o crescimento de mãozinhas e rabo em galinhas.

Segundo Horner, nenhuma dessas duas tarefas é muito difícil. Primeiro porque bem no início da gestação os embriões de quase todos os animais têm rabo (até das pessoas), mas muito cedo o rabo pára de crescer e depois é reabsorvido. Então é preciso basicamente desativar o gene que suprime o crescimento do rabo em embriões de galinha.

Se o rabo que surgir sozinho não for tão imponente quanto o de um dinossauro, que é o que Horner suspeita, eles terão que adicionar vértebras, e isso é possível controlando a temperatura do embrião.

Essa pesquisa em particular é o que faz a ideia de Horner ter um pouco mais de relevância para o meio científico. Porque se descobrirmos como ativar o crescimento de vértebras poderemos usar essa técnica para tratar diversas malformações em pessoas.

O processo para transformar asas em mãozinhas é ainda mais fácil, porque a estrutura óssea já é quase igual. Em um momento da gestação as galinhas têm mãos. Só é preciso encontrar o gene que manda os três dedos de fundirem em uma asa.

E assim, usando somente o DNA da própria galinha, teremos um “frangossauro”.
Uma galinha já tem potencialmente tudo o que é preciso para se tornar um mini dinossauro!

Frangossauro vai ser uma galinha geneticamente modificada para ativar características de dinossauros que já existem no seu DNA. Imagem por Karl Tate para LiveScience.com .

Vale lembrar que tudo isso foi feito apenas a nível embrionário, nenhum pintinho com focinho chegou a nascer, e Horner defende que só vai realmente chocar um frangossauro quando todas as características estiverem bem controladas e em harmonia.

E para deixar essa história ainda mais improvável, adicionamos o fato de que o maior financiador do projeto até agora é ninguém menos do que George Lucas. Se o financiamento continuar, Horner promete que teremos o primeiro frangossauro em cerca de sete anos.

Se você ainda precisa de um motivo para defender a ideia de se criar um dinossauro de verdade (!) pense que ele ajudará a entender muito mais sobre engenharia reversa em genética e utilização de atavismos (essas características ancestrais que temos no nosso DNA) que poderão ser usadas em inúmeras pesquisas no futuro. Além disso, Horner espera que o frangossauro ajude a engajar crianças no estudo de genética, além de mostrar uma prova irrefutável da veracidade da evolução das espécies.

E para aqueles que acham tudo isso uma abominação, Horner relembra que os humanos já transformaram um lobo em um chihuahua, e ninguém reclama disso.

***

Comentários