No tempo que o trabalhador chinês padrão leva para fazer quatro pares de tênis, Lurdes fazia dez. Os chefes da fábrica ficavam impressionados, mas escolheram não dizer nada. Acontece que, nesse dia, Lurdes preferiu olhar as máquinas cortarem e girarem borracha. Assim, ela começou uma greve, as máquinas pararam e ela ficou entediada.
Pessoas de uniforme apontavam armas para pessoas de uniforme. Lurdes se afastou da fábrica e caminhou até o parque, onde se sentou em um banco na sombra. Um sujeito passou vendendo balões, crianças brincaram e pularam corda ao redor dela. Olhando as crianças, Lurdes se lembrou de como era ser daquele tamanho e pensou em tudo que havia acontecido com ela desde então.
Desde os 14 anos, Lurdes era capaz de comer ameixas no pé sem usar as mãos. Até esse momento, a grandeza nunca havia sido problema para ela. Incomodada, Lurdes levantou do banco, derrubou a trave do balanço e o escorregador. Só as crianças mais aptas conseguiram fugir do parque.
César foi o único que não correu. Lurdes descansou ao lado dele no parque silencioso. Pela primeira vez na vida, Lurdes teve orgulho da própria cabeça, onde César gostou tanto de passar a mão.
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Lurds é escrito por João Kowacs, com desenhos do Daniel Eizirik.
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